12 dialetos brasileiros que enriquecem a língua portuguesa

Bateu uma curiosidade? Conheça as características e algumas expressões dos diferentes dialetos falados no Brasil.
dialetos brasileiros

A língua oficial do Brasil é o português, mas quantas vezes você achou que estava em outro país por não conseguir entender perfeitamente o que as pessoas que cresceram em um estado ou até mesmo em uma cidade diferente da sua queriam dizer? Isso se dá por conta dos dialetos brasileiros.

De Norte a Sul da nação, há muitos tipos de variações linguísticas com uma acentuada diferença. 

Mas, o que são variações linguísticas? De forma simples, variação linguística é a capacidade de uma língua se transformar de acordo com diferentes contextos. 

Essas variações podem ser:

  • Diatópica (regionais);
  • Variação diacrônica (históricas);
  • Diafásicas (estilísticas);
  • Variação diastrática (sociais).

Os dialetos pertencem à categoria de variação diatópica, pois se referem às características do idioma – pronúncia (sotaque), vocabulário, gramática – em determinada região. 

Por exemplo, as palavras “aipim”, “mandioca” e “macaxeira” designam o mesmo alimento, porém o emprego delas varia conforme a região. 

Nesse caldeirão linguístico, os dialetos do Rio de Janeiro e de São Paulo são os mais presentes nos meios de comunicação. Já a diversidade de variação linguística do Nordeste junto com os dialetos amazônicos constituem o chamado português brasileiro setentrional.

Quantos dialetos existem no Brasil?

Dentro dessa imensidão de variações, selecionamos alguns diferentes dialetos para você conhecer um pouco mais sobre a diversidade linguística do Brasil. 

Vale ressaltar que não se trata de uma lista exaustiva: o Brasil, com suas dimensões continentais, é riquíssimo em variações linguísticas. 

Além disso, é bom não generalizar: nós reconhecemos que alguns dos exemplos citados não são usados por todos os habitantes da região indicada. 

Os socioletos, ou dialetos sociais, são as variedades da língua em diferentes grupos sociais. 

Por exemplo, há variações de acordo com a idade: os adolescentes de determinada região podem ter gírias locais que não são usadas pelos adultos que residem nessa mesma região, mas também nem pelos adolescentes de outras regiões.

1. Baiano 

Também conhecido como baianês, o baiano foi um dos primeiros dialetos brasileiros. E se você acha que seus falantes vivem apenas no estado da Bahia, vai se surpreender. 

O baianês também é falado em Sergipe, no extremo norte de Minas Gerais e no leste de Goiás e Tocantins. Veja alguns exemplos:

  • E aê, meu rei!? = Olá, amigo!
  • Colé de mêrmo? = Como vai você?
  • Aooonde! = Não mesmo!
  • Tá me comediando é? = Está me fazendo de bobo? 
  • Se plante! = Fique na sua!

2. Brasiliense 

Esse dialeto, também chamado de candango, é resultado do fluxo migratório que começou em 1955, por conta da construção de Brasília. Encontrado na cidade e na área metropolitana, é uma mistura das variações linguísticas do mineiro e goiano, com nuances nordestinas.  

  • Aff = Ave maria
  • Baú = Ônibus 
  • Vou de camelo = Vou de bicicleta
  • Hoje eu tô com uma lombra = Hoje eu tô com uma preguiça

3. Caipira

Com uma fonética marcada pelo “R” retroflexo, por trocar o “LH” por “I”, e por não flexionar o verbo, sem obedecer a concordância numérica, o que faz com que ele fique sempre no singular, o caipira é falado no interior do estado de São Paulo, leste e sul do Mato Grosso do Sul, sul de Minas Gerais, sul de Goiás, norte do Paraná e zonas rurais do sul do Rio de Janeiro. A influência desse dialeto vem da língua indígena Tupi.      

  • Nói, nóis = Nós
  • Muié = Mulher
  • Ele é um coió = Ele é um bobo
  • Nóis fumo = Nós fomos
  • Us carmânti = Os calmantes 
  • Num mi alembro = Não me lembro

4. Carioca 

Falado na região metropolitana do Rio de Janeiro e em áreas próximas, o dialeto carioca está entre as variações linguísticas no Brasil. Ele é conhecido pelo sotaque com muita semelhança ao português lusitano.

Todo mundo sabe que é um carioca falando por conta do S chiado e das vogais abertas. 

Os dialetos dos africanos escravizados também foram uma influência no carioquês.

  • Tô bolado = Tô preocupado
  • Coé = Qual é
  • Esse projeto fluiu = Esse projeto deu certo
  • Maneiro = Muito legal
  • Mermão = Aglutinação de “meu irmão”

5. Gaúcho 

Com grande influência do espanhol e um pouco do Guarani e de outras línguas indígenas, o dialeto guasca (gaúcho) é falado predominantemente no Rio Grande do Sul, e em parte do Paraná e de Santa Catarina.  

  • Olhar de revesgueio = Olhar atravessado
  • Preteou o olho da gateada = A coisa ficou complicada
  • Te some da minha frente = Sai da minha frente
  • Tri afú = Muito legal
  • Toca ficha = Segue em frente

6. Mineiro 

O dialeto montanhês também é uma das variações linguísticas no Brasil. Este ocorre principalmente nas regiões central e leste de Minas Gerais.

Apareceu após a decadência da mineração, quando o estado sofreu um isolamento. Contudo, o montanhês também sofreu influência do dialeto caipira, de São Paulo. 

  • Quét’ s’criança! = Mãe pedindo às crianças que se calem
  • Conta Z’óra? = Que horas são?
  • As’fruta ‘tão ‘pudrecen tud’ = Todas as frutas estão apodrecendo
  • Blusdifri = Blusa de frio
  • Sa passado = Sábado passado

7. Nordestino 

Falado em Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, na porção sul do Ceará e em algumas regiões da Bahia, do Piauí e do Maranhão, é o dialeto com maior número de falantes. 

São mais de 53 milhões de pessoas e, por conta disso, ele inclui subdialetos, como o da Zona da Mata, do interior nordestino, e do Meio-Norte. 

  • Mainha! Ó ele me arengando! = Mãe, olha ele me perturbando!
  • Arreda = Sai da frente
  • Agora, avalie o tamanho da encrenca = Agora, imagine o tamanho da encrenca
  • Vou acochar bem os parafusos = Vou apertar bem os parafusos 
  • Dar o grau = caprichar

8. Nortista 

Falado pela maioria dos habitantes da Bacia Amazônica (Acre, Amazonas, Roraima e Amapá e parcialmente no Pará, excluindo-se a região de Carajás), a amazofonia sofreu forte influência dos portugueses. A característica mais marcante é o uso do “tu” nas conjugações em segunda pessoa.  

  • Gala seca = Idiota
  • Baixa da Égua = Local distante
  • Ficar de bubuia = Ficar tranquilo
  • Tá lá, cheiroso! = De forma alguma!
  • Tu é leso, é? = Você tá doido, é?

9. Paulistano 

Muito usado nos meios de comunicação, o dialeto paulistano é falado na Macrometrópole de São Paulo (com exceção de alguns municípios que utilizam o dialeto caipira).

  • Se pá = Talvez
  • Bater um fio = Dar um telefonema
  • Fica na moral = Fica quieto, calado
  • Uma pá de vezes = Muitas vezes
  • Foi descoberta muita corrupa no governo de Sampa = Foi descoberta muita corrupção no governo de São Paulo

10. Recifense 

O dialeto recifense é típico da Região Metropolitana do Recife e da Mesorregião da Mata Pernambucana, no estado de Pernambuco. 

Sua marca é o chiado e a quantidade de palavras criadas pelos falantes desse dialeto. 

  • Deixar de pantim = Deixar de besteira
  • Com os quatro pneus arriados = Estar muito apaixonado por alguém
  • Fi de rapariga = uma maneira de insultar alguém
  • Gera = Farra
  • Avoar no mato = Jogar fora

11. Sertanejo 

Falado no sudoeste, centro-sul e leste do Mato Grosso, noroeste do Mato Grosso do Sul, no centro-norte de Goiás e em pequenas porções do oeste de Minas Gerais, é um desdobramento do dialeto caipira. 

Além disso, a construção do sertanejo vem da interação de falantes dos dialetos brasileiros: mineiro, sulista e nordestino. 

  • Dar pinote = Fugir correndo
  • Ela se emperiquitou toda = Ela se arrumou toda
  • Tchá por Deus = Expressão de espanto ou indiferença

12. Sulista 

Esse dialeto, que possui muitas características particulares, é predominante no Paraná, em praticamente todo o estado de Santa Catarina, no noroeste do Rio Grande do Sul e no extremo-sul do estado de São Paulo.

  • Cupincha = Camarada
  • Pila = Dinheiro
  • Você está borracho = Você está bêbado 
  • Vou na padaria comprar um cacetinho = Vou na padaria comprar um pão francês

Diferença entre língua, dialeto e idioma

dialetos Brasil

A comunicação é a finalidade maior de uma língua, idioma ou dialeto. E é por meio dela que ocorrem as interações sociais.

Mas saber a diferença entre língua, dialeto e idioma é entender melhor como cada nação cria suas ferramentas para se comunicar. Veja!

Língua: nada mais é do que um instrumento de comunicação. Segundo a definição do dicionário Michaelis, a língua é um conjunto de palavras ou signos vocais e regras combinatórias estabelecidas, de que fazem uso os membros de uma comunidade para se comunicar e interagir. Ou seja, é ela que estabelece as interações sociais. 

Idioma: é a língua que identifica uma nação, é a língua própria de um povo. No Brasil, o idioma oficial é o português. Existem países, como a Suíça, por exemplo, em que três idiomas são considerados oficiais: o alemão, o italiano e o francês. 

Dialeto: é uma forma particular de uma língua que é peculiar a uma região ou a um grupo social específico. O dialeto é geralmente interpretado geograficamente (dialeto regional), mas também tem relação ao contexto social da pessoa (dialeto de classe) ou ao ofício (dialeto ocupacional).

Cada um desses modos se refere a uma variedade linguística, com a sua própria lógica gramatical.

Dialetos brasileiros e o preconceito

A língua portuguesa, no Brasil, conta com dialetos separados por região e, conforme a localidade, acabam recebendo substantivos. Essas variações linguísticas regionais geram o que chamamos de preconceito linguístico.

Geralmente, o preconceito ocorre em tom de deboche e resulta em intolerância, desprezo e até mesmo na exclusão social. Além disso, é associado às diferenças regionais que incluem:

  • Gírias;
  • Dialetos;
  • Regionalismo;
  • Sotaque.

Você sabia que existem gírias e expressões do português europeu sem sentido para os brasileiros? 

É importante saber que as variações linguísticas regionais envolvem desde aspectos culturais e sociais até históricos. Por mudar entre grupos e ser um dialeto diferente, algumas pessoas podem fazer juízo de valor.

O fato é que são muitos os dialetos do Brasil e não existe um que seja considerado o mais correto ou melhor. Além disso, o preconceito linguístico também ocorre em âmbitos diferentes, sendo socioeconômico e regional.

Lista de variações linguísticas no Brasil

Confira alguns exemplos de variações linguísticas regionais, com palavras e expressões que mais variam em algumas regiões:

  • Jerimum – abóbora
  • Varapau – homem alto
  • Zambeta – pernas tortas
  • Pelada – racha – baba – jogo de futebol
  • Fastiado – sem fome
  • Cambito – perna fina
  • Fez mal –  engravidou uma mulher
  • Gaia – chifre
  • Cabreiro – desconfiado
  • Araçá – goiaba
  • Guri – menino
  • Vina – salsicha
  • Dindim – sacolé – geladinho – gelinho
  • Balaio de gato – desorganização
  • Dar o prego – enguiçar
  • Galheta – biscoito – bolacha
  • Ensacar – colocar a blusa dentro da calça
  • Pão cassetinho – pão francês
  • Bruguelo – bebê
  • Triscar – tocar
  • Porpeta – almôndega
  • Cão chupando manga – pessoa feia
  • Liso – sem dinheiro

Tipos de variações linguísticas por região

Temos o português como a língua oficial do Brasil, que também é a língua materna em vários outros países, sendo um dos idiomas mais falados no mundo. Mas, conforme a região do país, ocorre a variação linguística regional. 

Veja alguns tipos de variações linguísticas por região!

Variação linguística regional no Nordeste

  • Caxaprego: lugar distante demais
  • Dar pitaco: opinar, dar opinião
  • Rebole no mato: jogar fora
  • Aperrear: encher o saco
  • Sustança: força/vigor
  • Baixa da égua: lugar longe ou que ninguém quer ir
  • Nome feio: palavrão
  • Botar as barbas de molho: tomar precauções
  • Buchuda: gestante
  • Fuzuê: barulho/confusão
  • Bater a caçuleta: falecer/morrer

Dialeto brasileiro no Norte

  • Égua de largura: muita sorte
  • Zé ruela: abestado
  • Vigia bem: preste atenção
  • Capar o gato: ir embora
  • Levou o farelo: faleceu/morreu
  • Paga uma aí: paga uma bebida
  • Essa é da grife do varal: peça de roupa roubada

Variação linguística na região Sul

  • Alçar a perna: montar a cavalo
  • Embretar-se: se meter em apuros
  • Maleva: bandido
  • Tirana: dança popular e cantiga
  • Campo Santo: cemitério

Variedades da língua portuguesa no Centro-Oeste

  • Para de mula: perturbação/perturbando
  • Dormir no macio: viver na folga/folgado
  • Não dar conta: não consegue fazer algo
  • Tá chovendo duro: chover torrencialmente/abundantemente
  • Arruinou: piorou de saúde

Diversidade linguística no Brasil no Sudeste

  • Jacú: ignorante, bobo
  • Paga pau: admirar alguém
  • Da hora: legal
  • Tá ligado: está atento
  • Rolê: dar uma volta/passeio
  • Quebrado: sem dinheiro
  • É fria: perigoso

Quer conhecer algumas gírias de São Paulo e o sotaque paulistano? Confira aqui!

Então, agora você já conhece algumas das principais variações linguísticas no Brasil e seus significados.

Por que existem tantos dialetos brasileiros?

A variedade linguística regional ocorre por diferentes fatores, como já mencionamos. Além disso, elas podem ser: variação social, variação diatópica, variação diafásica e variação diacrônica.

O motivo para ter diferentes dialetos brasileiros ocorre, principalmente, por conta da influência dos imigrantes. Mas também percebemos que algumas tendências sociais influenciam, especialmente, na pronúncia ao utilizar alguns acentos.

No geral, quanto mais uma nação foca em oferecer uma educação forte e padronizada, maiores serão as chances de ocorrer o fim de alguns dialetos.

Agora você já conhece os dialetos brasileiros que enriquecem a língua portuguesa. Além disso, percebeu o quanto as variações linguísticas no Brasil são importantes.

Então, já sabe também que é importante aceitar cada uma delas, pois fazem parte da nossa cultura. Afinal, não se tratam de erros e sim de fatores de enriquecimento para nossa língua.

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