Where are you from?Eis a questão

Nem sempre dá para escapar dessa pergunta ao se apresentar a alguém. O problema é que ela não é tão inocente quanto parece.
de onde voce vem

Para muita gente, quebrar o gelo em uma conversa pode não ser das tarefas mais fáceis, ainda mais quando acabamos de conhecer alguém. Embora seja super normal querer parecer interessante e tentar descobrir um pouco sobre a pessoa com quem estamos interagindo, também é interessante prestarmos atenção em como fazemos isso.

E, frequentemente, uma das maneiras mais comuns de se iniciar uma conversa com um estranho é por meio da pergunta “de onde você é?” (Where are you from?, ¿De dónde eres?, Woher kommst du?, não importa o idioma). Quase nunca dá para escapar dessa questão ao se apresentar a alguém novo no exterior. 

Em suas diversas formas, Where are you from? é, talvez, a pergunta mais comum para tentar engatar uma conversa. Pouca gente, contudo, percebe o quão problemática ela pode ser para muitos que a ouvem.

Qual é o dilema dessa pergunta?

Há certamente alguns, mas um deles é que nem sempre se trata de uma questão inocente. Quando alguém pergunta a origem de outra pessoa, há ali mais do que simples curiosidade. Os elementos mais óbvios envolvem a percepção (muitas vezes cheia de clichês e racismo) sobre a identidade do outro e até uma reprodução de poder dos países de onde viemos.

A escritora Taiye Selasi aborda esses dois elementos muito bem na palestra abaixo. Ela afirma: “O que estamos procurando quando perguntamos de onde alguém vem? E o que estamos realmente enxergando quando ouvimos a resposta? Aqui vai uma possibilidade: basicamente, países representam poder. ‘De onde você vem?’ México. Polônia. Bangladesh. Menos poder. EUA. Alemanha. Japão. Mais poder. […] É possível que sem perceber, estejamos jogando um jogo de poder, especialmente no contexto de países multi étnicos. Como qualquer recém imigrante sabe, a pergunta ‘De onde você vem?’ ou ‘De onde você realmente vem?’ é muitas vezes, um código para: ‘Por que você está aqui?’”

Selasi, e muitos outros depoimentos disponíveis online, enfatizam que essa pergunta mexe com questões de identidade muito particulares. Muitas vezes, ela transmite a percepção de que alguém não é (e não pode ser) de um certo país por causa de sua aparência, sotaque, cor da pele.

E isso, claro, afeta especialmente grupos minoritários, que não parecem “alemão, inglês, canadense” e precisam lidar com perguntas ainda mais incisivas como “mas de onde você realmente/originalmente é?” (Where are you from originally?).

Em um artigo no jornal britânico The Guardian, a escritora e jornalista Ariane Sherine descreve o cansaço de ouvir Where are you from? até mesmo de estranhos. Isso acontece, segundo a autora, porque ela é parda. Na Inglaterra e no País de Gales, 86% da população é branca. 

Quando Sherine responde a pergunta dizendo que nasceu em Londres, é questionada em mais detalhes: “Mas de onde você é mesmo?”. É como se, por não ser branca, não pudesse também ser britânica. Veja esse diálogo reproduzido do artigo: 

Estranho (confuso): Erm … então, de onde é sua família, tipo, antigamente? [Tradução: Pessoas que vêm da África e da América não se parecem com você.]

Eu: Irã, Índia, África, América e Inglaterra.

Estranho (aliviado): Índia e Irã! Você já voltou lá alguma vez?

Eu: Nesse ponto, tenho que explicar que é difícil voltar para algum lugar em que você nunca esteve. Eu moro em Londres desde que era um zigoto, tenho sotaque londrino e não falo nenhum idioma, exceto o inglês – mas só porque sou cor de caju, sou frequentemente questionada sobre minha herança [cultural].

Essas situações trazem o questionamento: essa pergunta é mesmo necessária? O que ela acrescenta de fato em uma conversa?

Mas o que eu vou perguntar então?

Seja criativa/o quando quiser se apresentar ou perguntar algo a alguém que você acabou de conhecer. Pergunte como foi o dia daquela pessoa, se ela é nova na cidade, o que ela acha do local onde vocês estão, se curte música clássica, música em formato digital ou em LP. Enfim, há tanta coisa para se perguntar antes de querer saber onde alguém nasceu.

Em algum momento, a pessoa vai te dizer de onde é. Isso se ela quiser. E se não quiser, não cabe a você perguntar.

Mas se você não consegue se controlar, dá para ser mais sutil. Pergunte se ela é daquela cidade, daquele bairro, se sempre morou ali ou em outra cidade. Você vai encontrar dicas de forma natural, sem ser rude. 

Boa conversa!

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